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quarta-feira, 11 de outubro de 2017

O JOGADOR DE FUTEBOL QUE NUNCA JOGOU



O mundo do futebol está cheio de jogadores que mudam de time. A expansão do negócio permitiu que essas contratações sejam cada vez mais frequentes, e a globalização possibilitou que haja cada vez mais informações disponíveis e que os jogadores se tornem mercadoria.
Um desses jogadores migratórios foi Carlos Henrique Raposo, que passou por vários clubes e neles cumpriu uma tarefa peculiar. Ainda que recebesse um salário, não disputou nenhum jogo. Quer saber por quê? A resposta é inusitada.
Carlos Henrique Raposo é um ex-jogador que soube aproveitar ao máximo seus dons. Alguém poderia pensar que ele tivesse um chute extraordinário ou que tivesse sido um desses jogadores que fazem a diferença dentro de campo, mas não. Sua maior virtude era a de fazer amizade com os jogadores mais importantes para, assim, conseguir ser contratado.
Raposo, que esteve no futebol nos anos 80, conseguiu se relacionar com jogadores do calibre de Romário, Bebeto, Branco e até Edmundo. O primeiro passo que ele dava era tentar convencê-los, aproveitando-se da relação próxima que tinham, de que eles o integrassem a seus contratos quando eram convocados por algum clube para que pudesse ir com deles.
Além de oferecer companhia a seus amigo jogadores, Carlos Raposo se encarregava de que não faltasse nada no dia a dia deles. Esse era seu objetivo e, somado a isso, devia também ter rendimento nos treinos, já que era comprado como jogador. Aí começavam os problemas, já que o único que tinha de esportista era o físico, mas sem habilidade futebolística.
Sua alcunha no mundo do futebol devia-se ao único atributo que lhe permitia passar-se por jogador: seu físico. Sua aparência era muito similar à do astro alemão dos anos 70, Franz Beckenbauer, cujo apelido era Kaiser. Foi, portanto, na figura de Beckenbauer, campeão do mundo em 1974, que se originou o apelido de Raposo.
O próprio Raposo explicou sua maneira de agir diante dos jogadores que acabavam tornando-se seus amigos: “A gente se encontrava num hotel e eu levava mulheres”. E completou: “Alugava apartamentos com uma diferença de dois andares dos jogadores, assim ninguém precisava sair do hotel.” Dessa maneira, e por intermédio do sexo feminino, ele conseguia se aproximar deles.
Em 1986, Raposo conseguiu, no futebol, o seu primeiro contrato ou, o que muitos consideravam, seu primeiro golpe, já que foi convocado pelo simples fato de estar ligado à uma figura do meio. Maurício foi quem o levou ao Botafogo, onde era ídolo. O vínculo entre eles tinha nascido na infância e ganhou importância nos anos seguintes.
Assim como os comediantes quando sobem ao palco para iniciar seu monólogo num stand-up, Raposo tinha seu método para viver o dia a dia no clube: “Fazia algum movimento estranho, tocava minha coxa e ficava 20 dias no departamento médico”. Era assim que, numa época em que as ressonâncias magnéticas não existiam, esse jogador fictício vivia do clube.
Por mais que soe cômico, Raposo conseguiu fazer sua primeira transferência ao Flamengo. Tudo aconteceu graças a Renato Gaúcho, outro de seus grandes amigos. Ele, cujo apelido se deve ao fato de ter nascido no Rio Grande do Sul, manifestou: “Eu sabia que o Kaiser era inimigo da bola, então combinava com um colega que batesse nele e, assim, o mandávamos para a enfermaria”.
Durante sua etapa no Fla, seu modus operandi já era mais profissional. Raposo chegava aos treinos com um celular, o que, nesse momento, demonstrava um status econômico superior. Então, ele simulava uma conversa em inglês ao telefone fazendo com que acreditassem que equipes europeias estavam interessadas em contratá-lo.
Em algum momento, alguma circunstância faria com que a história de Raposo cambaleasse e desabasse como uma torre de cartas. Foi assim que, no Flamengo, um médico que havia morado na Inglaterra o desmascarou. Apesar de toda a equipe, dos jogadores e da parte técnica acreditarem nas suas conversas em inglês, o médico explicou que os diálogos que Raposo tinha pelo celular não faziam sentido.
Como faltavam vídeos e informação nos quais embasar sua contratação, Carlos Henrique se relacionava com diferentes jornalistas, que escreviam artigos positivos sobre ele. “Tenho facilidade em fazer amizades, muitos jornalistas gostavam de mim”. Apesar disso, outras fontes revelaram que Raposo, além de ser amigável, também lhes comprava presentes e fornecia informação interna do clube.
O futebol da América do Norte abriu as portas de uma maneira incrível para esse jogador que não havia jogado nenhuma partida na vida. Ainda assim, ele saiu do país e foi ao Puebla do México, em que também não jogou e, então, partiu para os Estados Unidos. “Eu assinava o contrato de risco, o mais curto, normalmente de poucos meses e recebia as luvas do contrato”, declarou.
Suas peripécias pelos Estados Unidos e pelo México duraram apenas dois anos, depois voltou ao Brasil. Foi então que, no Bangu, protagonizou uma de suas grandes histórias. O treinador decidiu convocá-lo por causa de uma baixa de jogadores, que estavam contundidos, e outros problemas. Quando ele estava em aquecimento prestes a entrar em campo, inventou uma briga fictícia com um torcedor por causa de uma suposta ofensa gritada ao treinador. Tudo isso para que conseguisse ser expulso antes mesmo de começar a jogar.
Minutos depois de ser expulso, ele teve que enfrentar seu treinador no vestiário. Quando ele estava pronto para encará-lo e repreender sua atitude em campo, Raposo se adiantou: “Deus me deu um pai e depois me tirou. Agora que Deus me deu um segundo pai – referindo-se ao técnico – não deixarei que nenhum torcedor o xingue”.
Raposo foi recebido como uma estrela no Ajaccio da França. O humilde clube da Europa contratou o brasileiro e lhe preparou uma apresentação da qual ele para sempre se lembrará: “O estádio era pequeno, mas estava cheio de fãs”, comentou. E completou: “Vi que havia muitas bolas no gramado, fiquei nervoso porque iriam descobrir que eu não sabia jogar”.
Enquanto os nervos se apossavam de Raposo e um estádio lotado de torcedores estava prestes a se dar conta de toda a farsa, ele resolveu o problema magistralmente mais uma vez: “Entrei em campo e comecei a pegar todas as bolas e chutá-las para os torcedores. Eles foram à loucura!” revelou.
Para um jogador que tinha 20 anos de carreira, já era tarde demais para fazer o seu debut em campo. Raposo destacou que foi só no Ajaccio que ele foi jogar de verdade por uns minutos. “Nunca foram mais de 20 minutos por jogo”, segundo contou. Esse foi seu final e, com 39, ele pendurou as chuteiras.
Seu período no Ajaccio da França representou toda uma novidade para ele. Jogou 20 minutos numa disputa sobre a qual ele comenta, mas da qual ele não se lembra nada, nem sequer o clube adversário. Poucos minutos depois de entrar em campo, ele disparou a correr e os fãs deliravam porque, apesar de estar lesionado, Raposo não abandonava o campo pelo amor à camisa. Uma loucura!
Raposo contou que aos 20 anos de carreira, ele nunca havia disputado minutos oficiais numa partida no Brasil. E estando fora do país confessou ter alcançado a cifra de 20 ou 30 jogos com pouquíssimos minutos em cada um deles. Para ter conseguido a marca de uma média de menos de um jogo por ano de trajetória, Carlos Henrique foi bem inteligente.
A postura que Carlos Henrique tomou para justificar seu comportamento é tão eloquente quanto compreensível: “Não me arrependo de nada. Os clubes trapacearam e ainda trapaceiam muito aos jogadores. Alguém tinha que se vingar deles”. Será que ele é um justiceiro ou um mero impostor?
Carlos Henrique Raposo é conhecido no mundo do futebol como o maior golpista que viveu desse esporte. As estatísticas são notáveis: atuou como jogador por 20 anos e esteve em 15 equipes diferentes. Algumas delas foram Botafogo, Flamengo, Puebla, Bangu, América, Vasco da Gama, Fluminense e Independiente.






fonte: www.desafiomundial.com

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